sexta-feira, 30 de setembro de 2016

CURSO “QUEM FOI JESUS?” Lição 5 – A Obra Sacrificial de Cristo


1. A Obra Sacrificial de Cristo
Dentro do ofício sacerdotal de Cristo está a sua obra sacrificial.
Qual o significado da morte de Cristo?
O que de fato aconteceu quando o Filho de Deus morreu?
Interpretações, neste sentido, têm sido dadas no decorrer da história. Algumas são errôneas; outras apresentam apenas alguns aspectos bíblicos. Nenhuma, no entanto, é suficiente para expressar toda a verdade bíblica da expiação. É preciso considerar todas elas e reunir os vários aspectos bíblicos que elas apresentam para se ter uma compreensão melhor do significado da obra de Cristo na cruz.
Interpretações da Morte de Cristo
a) Teoria do Acidente
Segundo esta maneira de ver, Cristo morreu porque foi envolvido acidentalmente em intrigas de oposições, assim como qualquer um poderia ter morrido.
Mas isto representa apenas uma análise superficial do que aconteceu, porque a morte de Jesus foi profetizada pelos profetas (Salmo 22, Isaías 53, Zacarias 11), e predita por Cristo mesmo (Mateus 16.18). Além disto, a Bíblia considera a morte de Cristo algo significativo para a salvação, e não simplesmente um acidente.
b) Teoria do Mártir
Pensadores há que entendem que Jesus morreu como um mártir, em defesa da causa que havia abraçado. A morte de Jesus mostrou sua integridade e fidelidade à verdade e aos seus princípios. Assim, ele deixa para nós um belo exemplo para ser imitado. Apenas um exemplo de integridade e fidelidade.
Esta interpretação não leva em conta várias passagens bíblicas que dão à morte de Cristo significado além do mero martírio e de apenas um belo exemplo a ser seguido. Portanto, uma interpretação falha.
c) Teoria do Resgate
A ideia do resgate implica num preço pago. A Bíblia ensina que o sangue de Cristo serviu de resgate, isto é, foi um preço pago pela nossa redenção (Marcos 10.45; I Coríntios 6.20; I Timóteo 2.6; II Pedro 2.1).
A ideia do resgate é bíblica.
No princípio do Cristianismo, discutiu-se sobre a quem teria sido pago o preço. Alguns pais da Igreja entenderam que o preço teria sido oferecido ao Diabo, para resgatar os homens cativos de Satanás, mas, ao final, Cristo teria surpreendido (enganado) o inimigo, ressuscitando dentro os mortos, e derrotando o Diabo.
Mas esta ideia do preço pago ao Diabo é errônea. Não parece razoável nem bíblico que o sacrifício tenha sido oferecido a Satanás. Este não adquiriu nenhum direito sobre a humanidade, e a Bíblia não fala de nenhuma transação que Deus tenha feito com o Diabo.
Certamente, o preço do resgate foi oferecido ao próprio Deus.
Foi Deus que, pela Sua justiça e santidade, sujeitou o pecador ao domínio e às consequências do pecado, obras do Diabo, de cujo cativeiro Cristo nos resgatou (Hebreus 2.14-15). Então, Cristo nos resgatou do cativeiro do pecado e do Diabo a que estávamos entregues pela justiça divina (Romanos 1.24, 26, 28).
d) Teoria da Satisfação
Anselmo (1033 –1109) desenvolveu a interpretação da satisfação.
A posição de Anselmo era uma reação à teoria do resgate pago a Satanás.
Segundo ele, o pecado do homem desonrou a Deus, e assim Deus não poderia simplesmente perdoar o pecador e ficar com a desonra. Ele exigia uma satisfação. Mas o homem não poderia dar essa satisfação, porque está no pecado, portanto, imperfeito. Então Deus mesmo providenciou o meio, enviando o Seu filho para tomar o lugar do homem na cruz. Como Cristo não tinha pecado, sua morte resultou num mérito que é colocado à disposição dos que confiam nele.
Esta explicação de Anselmo tem elementos de verdade, como o fato de que o pecado é ofensa e desonra a Deus e o sacrifício de Cristo foi um meio para a satisfação das exigências divinas, e, desta forma, Deus é “justo e também justificador daquele que tem fé em Jesus” (Romanos 3.26).
Mas esta interpretação não espelha toda a verdade. Falta-lhe a ênfase na união do pecador com Cristo e na transformação que disto resulta (Romanos 6).
e) Teoria da Influência Moral
Abelardo (1079 – 1142) deu ênfase à influência moral ao interpretar a morte de Cristo. Ele estava se contrapondo à teoria de Anselmo, seu mestre.
Para Abelardo, Cristo morreu porque se tornou humano. Mas assim fazendo, ele revelou o amor de Deus, na encarnação, nos seus sofrimentos e na sua morte. Esse amor, assim vivamente demonstrado por Cristo, exerce uma tal influência no coração do pecador que ele fica atraído ao arrependimento e à conversão a Deus. Arrependido e convertido, o homem liberta-se do egoísmo, que está na essência do pecado, e vive em amor para com Deus. Segundo esta maneira de ver, a base da salvação está no amor de Deus e sua influência no coração do homem.
Esta interpretação é classificada como uma teoria subjetiva, por enfatizar o efeito da morte de Cristo no homem e não fora dele, em Deus. Tomada como a única interpretação é falha; mas ela expressa também uma parte da verdade, pois há textos bíblicos que enfatizam o papel do amor de Deus na redenção (João 3.16; Romanos 5.8-9; II Coríntios 5.14-15; I João 4.9-10). Na vida cristã, esse aspecto do constrangimento do amor divino é muito forte. Alguns dos nossos hinos provam isto. “Morri, morri na cruz por ti; Que fazes tu por Mim?”, “Ao contemplar a rude cruz”, etc.
f) Teoria Governamental
Hugo Grotius (1583 – 1645) argumentou que Cristo sofreu como um exemplo penal para que a lei divina fosse honrada e, assim fazendo, Deus deu perdão aos pecadores. Esta teoria é chamada governamental, porque Grotius via Deus como um soberano ou chefe de governo que decretou uma lei (pena de morte para os pecadores), mas como Ele não queria que os homens morressem, abrandou aquela regra e aceitou a morte de Cristo como substituto. Ele poderia ter simplesmente perdoado a raça humana, se assim desejasse, mas tal ato não teria valor algum para a humanidade. A morte de Cristo era um exemplo público da profundidade do pecado e do ponto até onde Deus estava disposto a ir a fim de sustentar a ordem moral do universo. O governo moral de Deus no mundo precisou de uma manifestação de sua ira contra o pecado. O Filho de Deus deu exemplo da ira divina.
O problema desta teoria é que ela enfatiza a necessidade da morte de Cristo perante a sociedade, mas desconsidera a justiça de Deus que precisou ser ela mesma satisfeita para que Ele pudesse reconciliar o mundo consigo (Romanos 3.25-26).
g) Teoria Penal
Os teólogos da Reforma concordaram com Anselmo em que o pecado é algo muito sério, que desonra a Deus, mas consideravam que se tratava mais de uma violação da lei de Deus do que de uma ofensa contra a honra de Deus. Consideraram o pecado como uma transgressão à lei moral de Deus e, daí, uma ofensa ao caráter de Deus. Assim, a morte de Cristo foi um ato de amor de Deus em que Ele colocou sobre o seu Filho o julgamento e a penalidade do pecado da humanidade imposta pela lei a cada indivíduo. A essência da obra redentora de Cristo está no fato de ele tomar o lugar dos pecadores. Pela fé, o crente é justificado e perdoado; e na união com Cristo, o crente é moralmente transformado.
Sem dúvida, este é um aspecto básico da expiação de Cristo. Jesus sofreu a pena da lei imposta sobre o pecado do homem, que é a morte (Ezequiel 18.4,20; Romanos 3.23; Romanos 6.23). Ele foi um substituto nosso na morte (II Coríntios 5.14-15; Gálatas 4.4-5), e por ele somos justificados da condenação da lei (Romanos 6.14; Romanos 7.4-6).
2. Destaques das Ideias Bíblicas da Morte de Cristo
Algumas das teorias acima estudadas contêm aspectos da verdade bíblica acerca da morte de Cristo. Destacamos os aspectos do resgate, da satisfação, da influência moral, pena.
Na obra sacrificial de Cristo foi pago um preço para libertação do pecado, a honra de Deus foi atendida, o amor divino foi demonstrado, a lei de Deus se tornou efetiva em sua punição de morte aos transgressores e com isto cessou a punição da lei para aqueles que recebem a justiça que vem de Cristo. “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós” (Gálatas 3.13).
A interpretação que melhor explica o significado da morte de Cristo é a penal, que vem desde a Reforma. Mas é preciso enfatizar dois aspectos inerentes a esta interpretação, de fundamental importância para a fé cristã:
2.1 – A morte de Cristo foi SUBSTITUTIVA
Cristo não morreu por seus próprios pecados (João 8.46; I Pedro 2.22; Hebreus 4.15). A Bíblia diz que ele morreu pelos pecados de outros (Isaías 53.5-6; II Coríntios 5.14, 15, 21; I Pedro 2.22-24; etc.).
Portanto, sua morte foi substitutiva ou vicária. Assim como os sacrifícios no Antigo Testamento, que tinham um caráter substitutivo, Cristo também, que cumpriu e substituiu aqueles sacrifícios antigos, é oferecido como o “cordeiro de Deus” no lugar dos pecadores.
Entretanto, algumas objeções se levantam contra a morte substitutiva de Cristo. Elas são de ordem léxica e moral:
a) Objeção de ordem léxica
Diz-se que a preposição grega anti pode significar “no lugar de”, mas a preposição huper, que é freqüentemente usada quando se fala do sofrimento de Cristo, significa “em favor de”, “com vistas ao benefício de”, e nunca “no lugar de” ou “ao invés de”.
Quanto à preposição anti não há dúvida de que ela significa “no lugar de” ou “ao invés de” (Mateus 5.38; Mateus 20.28; Marcos 10.45; Lucas 11.11; Romanos 12.17; I Tessalonicenses 5.15; I Pedro 3.9; hebreus 12.16). Mas também huper pode ser empregado com o sentido de “ao invés de”, dependendo do contexto. Em II Coríntios 5.14, 15, 21 e Gálatas 3.13 é difícil negar a idéia de substituição. Portanto, Cristo morreu não somente em nosso favor, mas em nosso lugar.
b) Objeções de ordem moral
– Como Deus poderia punir um inocente no lugar dos culpados?
A resposta a esta objeção de ordem moral é que aquele que sofreu foi o próprio Deus que puniu, isto é, Jesus Cristo DIVINO. Isto é possível, moralmente falando.
– Se Deus já teve satisfação pelos pecados dos homens, então perdão não é perdão, mas dever.
A resposta é que quem perdoa é o mesmo que sofreu a penalidade, e para que haja perdão ele exige uma condição: arrependimento e fé.
2.2 – A morte de Cristo foi PROPICIATÓRIA
Na Bíblia, Deus apresenta-se às vezes como um Deus irado com o homem, por causa do pecado (João 3.36; Romanos 1.18ss; Romanos 5.9; I Tessalonicenses 1.10; Apocalipse 6.17).
O sacrifício de Cristo é revelado como um meio de reconciliação entre Deus e os homens (Romanos 5.10; II Coríntios 5.19-20; Colossenses 1.20). Pela morte de Cristo, a ira é desviada do homem e estabelece-se a paz (João 3.36; Romanos 5.1).
PERGUNTAS
1. Melhorou sua compreensão acerca da Obra Sacrificial de Cristo? Como?
2. Você tem alguma dúvida ou objeção a este ensino?
3. O quê este ensino pode significar para a raça humana?
4. O quê este ensino significa para você?

Autoria: Pr Ronaldo Franco  –  Data: 07.05.2005

Fonte: Manual de Teologia Sistemática, Zacarias de Aguiar Severa, A. D. Santos Editora, 1a Edição.

in - http://www.sitedopastor.com.br/quem-foi-jesus/#licao5

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